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"Por que um grupo de comédia que vai fazer cinema tem que fazer algo engraçado?" (Entrevista com Ricardo Pipo - Parte 5)

Santiago Dellape : O curta-metragem À Espera da Morte (assista aqui ) –  primeira experiência do grupo na sétima arte –  foi vaiado na sessão de estreia, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Como você avalia o episódio? Ricardo Pipo : Primeiro: a gente deu mole em querer fazer em película 35mm. Sabe aquele romantismo? Da banda que vai gravar o primeiro disco, e tem que ser em vinil. "Ah véi, vocês são uns otários, depois vai sofrer tanta interferência digital no resultado final que era melhor ter feito digital." Então teve uma série de equívocos aí. Era uma punheta, a gente se masturbou nesse filme. A gente queria fazer uma coisa pra gente mesmo, sabe? "O que a gente faria assim, sem nos trair?" Sem trair ninguém aqui dentro. O que a gente faria? Aí foi um debate eterno. E o Jovane veio com esse roteiro e chamou a nossa atenção por isso, porque a gente falou assim: "Cara, todo mundo vai falar assim 'Vou rir pra caralho' e se afundando, se afun...

"A gente não tem direção, quem dirige a gente é o caos." (Entrevista com Ricardo Pipo - Parte 4)

Santiago Dellape : O último espetáculo inédito de vocês foi América , de 2004, e lá se vão quase 20 anos. Vocês não sentem falta de renovar esse repertório ?  Ricardo Pipo : A gente tem muita ideia pra peça nova. Uma que a gente gosta muito se chama Pilantropia , palavra que a gente inventou. E o assunto é muito vasto, né? [...] Como a gente tem muita liberdade nas montagens, a gente experimenta as cenas novas em peças que já existem, antes de fazer um espetáculo inédito. Então na verdade quem assiste hoje vai ver coisa nova, inédita. Tem cinco esquetes que a gente tá trabalhando hoje que são inéditas, não existe em peça nenhuma. A gente insere ali no meio de uma peça e testa com o público. A gente não tem direção né? O que é uma coisa muito louca. Quem dirige a gente é o caos. A Adriana tem muita noção disso. E de vez em quando, quando ela vê que tá muito ruim, ela interfere. Qualquer um pode fazer isso, mas a Adriana realmente tem uma noção espetacular nesse sentido. Ela fala ass...

"Chulos, grotescos e politicamente incorretos. - Bárbara Heliodora". Essa é a frase do cartaz! (Entrevista com Ricardo Pipo - Parte 3)

Santiago Dellape :  Como é tua relação e do grupo com a crítica, e quais críticas te marcaram ao longo da carreira? A da Bárbara Heliodora foi uma delas? Ricardo Pipo : Sem dúvida nenhuma. Em Brasília, a gente foi muito paparicado. Quem escrevia na época eram pessoas que entendiam que se a nota máxima da turma era 6, isso valia 10. Entende? Porque era a nota máxima da turma. Existia um caderno de cultura, o cara tinha que escrever sobre isso. E quem é que estava trabalhando para o teatro fisicamente? Era a gente. O emprego do cara meio que dependia dele valorizar isso. Então a gente tinha o Sergio Maggio, Carlos Marcelo, Celso Araújo. [...] Jornalista de cultura tirava a bunda da cadeira, não ficava só recebendo release. A Bárbara Heliodora nessa época já era uma recebedora de release. E a galera deixava nos teatros do Rio de Janeiro uma foto dela proibindo a entrada dela. A gente falou assim: "É dela que a gente precisa." Era muito claro que ela roubava no joguinho. Porque n...

"Se inteligente é se comunicar com pouca gente, isso é burro." (Entrevista com Ricardo Pipo - Parte 2)

Santiago Dellape: Os Melhores do Mundo são provavelmente o melhor exemplo de teatro comercial no país. E teatro comercial geralmente é colocado no extremo oposto ao teatro experimental, de pesquisa. Mas de certa forma, vocês também experimentaram um bocado pra criar o repertório do grupo, então queria que você falasse sobre como é que você enxerga o teatro dos Melhores do Mundo: ele tem um rótulo? Se tiver, o rótulo seria esse, “comercial”? Ou teria outro rótulo melhor? Ricardo Pipo: Eu acho que a gente é a mistura de tudo. Tem gente que fala: "nossa, o humor de vocês é muito inteligente". Dá vontade de rir, mas eu seguro, falo "obrigado". O que é um humor inteligente, né? É um humor que é além do laço do público? Não, isso é burro! Sabe? Isso pra mim é burro. Se inteligente é se comunicar com pouca gente, isso é burro. O artista só chega ao sucesso se ele tiver empatia absoluta, se todo mundo entender o que ele tá falando. Então não acho que seja inteligente não, n...

"Hoje vamos aprender o que não fazer: A Culpa é da Mãe" (Entrevista com Ricardo Pipo - Parte 1)

Santiago Dellape : Queria, de forma bem amena, que você começasse falando sobre os fracassos do grupo, particularmente o texto do Martins Pena que vocês nunca chegaram a encenar com os irmãos Guimarães, e também Hamlet. A que você atribui a má sorte dessas montagens? Ricardo Pipo : Hamlet na verdade foi um sucesso igual ao que a gente tinha na época, não foi exatamente um fracasso. A gente era muito mal visto pela galera catedrática, galera da UnB. Tiveram aulas temáticas de professores falando assim: “Hoje vamos aprender o que não fazer.” Aí escrevia no quadro assim “A Culpa é da Mãe”. E aí os alunos falavam com a gente: “Cara, o professor hoje desceu a lenha em vocês.” Porque a UnB era contra a comédia de uma forma geral – o que é muito errado – e você poder cobrar ingresso antes de estar formado. Toda profissão tem estágio, né? Eu já acho errado o curso não ensinar a editar um vídeo, como postar no YouTube, novas mídias, o que você tem que fazer. Então você se formar ator e ficar es...

Em breve a íntegra da entrevista exclusiva de Ricardo Pipo

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Único registro fotográfico da entrevista concedida por Ricardo Pipo, da Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo, no dia 22/12/2022, no Bar Beirute, com a presença oculta de Sérgio Sartório e a presença ilustre de Carlinhos Beauty (ao fundo). Transcrição em breve!

Histórias do Teatro Brasiliense: Os Melhores do Mundo

Histórias do Teatro Brasiliense Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo Os Melhores do Mundo / Adriano Siri A Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo é um grupo teatral cômico. Suas origens estão nos últimos anos da década de oitenta, mas o grupo, com a atual formação (elenco), trabalha junto desde abril de 1995. Sediado em Brasília, o grupo criou, produziu e montou mais de 25 espetáculos - todos próprios - e tem estado em cartaz na Capital e em diversas outras cidades do país. Adriana Nunes, Adriano Siri, Jovane Nunes, Ricardo Pipo, Victor Leal e Welder Rodrigues executam todas as atividades artísticas ligadas à montagem dos espetáculos: textos, direção, interpretação, design gráfico, desenho de cenários e figurinos e produção de objetos de cena. A direção técnica - iluminação, som e cenários - fica por conta de Marcello Linhos e a produção geral e captação de recursos a cargo de Carlos Henrique Rocha. Esta é a formação atual da Cia. Com um humor crítico, permeado por improvisos e pre...