"Por que um grupo de comédia que vai fazer cinema tem que fazer algo engraçado?" (Entrevista com Ricardo Pipo - Parte 5)
Santiago Dellape: O curta-metragem À Espera da Morte (assista aqui) – primeira experiência do grupo na sétima arte – foi vaiado na sessão de estreia, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Como você avalia o episódio?
Ricardo Pipo: Primeiro: a gente deu mole em querer fazer em película 35mm. Sabe aquele romantismo? Da banda que vai gravar o primeiro disco, e tem que ser em vinil. "Ah véi, vocês são uns otários, depois vai sofrer tanta interferência digital no resultado final que era melhor ter feito digital." Então teve uma série de equívocos aí. Era uma punheta, a gente se masturbou nesse filme. A gente queria fazer uma coisa pra gente mesmo, sabe? "O que a gente faria assim, sem nos trair?" Sem trair ninguém aqui dentro. O que a gente faria? Aí foi um debate eterno. E o Jovane veio com esse roteiro e chamou a nossa atenção por isso, porque a gente falou assim: "Cara, todo mundo vai falar assim 'Vou rir pra caralho' e se afundando, se afundando, se afundando [na cadeira do cinema], não tem, não tem piada, não tem piada, não tem piada…" [O risômetro nesse filme não tava ligado né, era uma única risada no fim?] Uma piada só, só isso. E quem disse que isso é piada, entendeu? Ainda tinha essa. Por que um grupo de comédia que vai fazer cinema tem que fazer algo engraçado? Então esse filme tem umas nuances que a gente adora. E aí no Festival de Brasília foi muito bom, e foi assim o Vaticano pra gente. Imagina: teu primeiro filme, você tá na tua cidade, Festival de Brasília e aí pá, cria um barulho, polêmica, eu tava arrepiado, coração acelerado, falei "Puta que pariu, não queria nada menos que isso!" Pô, imagina você passar o filme e… [gesto de indiferença]? Aí tinha essa parada que a gente falou: "É tipo brincar com a morte do Ayrton Senna." A gente se baseou mesmo na história do submarino Kurski, na Rússia, ele naufragou mesmo. E os tripulantes ficaram lá no submarino; como nada alcançasse a profundidade, eles tiveram esse tempo, à espera da morte. Ninguém faria piada sobre isso. Ninguém ainda tinha feito sobre o 11 de setembro. Eu até adorei quando, numa entrevista com Millôr Fernandes, a jornalista falou assim: "Millôr, você fala que comédia é uma tragédia com tempo, né?" Espera o luto pra conseguir rir, né? - "Quando você acha que vão fazer piada com o 11 de setembro?" Ele falou assim: "Não, isso aí jamais." Pô, a gente já fazia há um ano! A gente se sentiu orgulhoso pra caralho disso, porque o Millôr era nossa ideia de vanguarda, sacou? E ele virou de repente um velho falando assim: "Não, gente, por favor né, não vamos brincar com as mortes…" [O Millôr elogiou Os Melhores do Mundo, por causa do Hino Nacional, não foi?] Isso foi o nosso primeiro viral, circulou via email. Então a gente perdeu a autoria. E aí chegou pro Millôr. E ele publicou no jornal, falou assim: "Não sei a autoria, mas leiam isso! Coloque o hino, dê play e cante essa letra." E aí, antes de a gente saber disso, uma galera de Brasília mandou carta pro jornal falando: "Ó, eu assisti essa peça!" [Para conhecer o Hino Nacional na versão dos Melhores do Mundo, clique aqui.]
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